No mercado brasileiro, ao contrário do que pregou o imperador romano Júlio Cesar em relação à honestidade de sua mulher, ao utilitário esportivo não é necessário ser 4x4, basta parecer um. Pneus grandes, posição de dirigir alta, estilo arrojado - e bom preço, diga-se - são os elementos de sedução. As adições mais recentes a esse nicho foram Toyota RAV4 com tração dianteira e Mitsubishi ASX, ausente no teste por falta de interesse do fabricante. Por outro lado, a marca foi diligente ao impedir que concessionárias nos emprestassem o carro. Também a Hyundai, ao alegar não ter unidades do ix35 para ceder, colocou em risco sua participação. Quem garantiu a presença do ix35 neste grupo foram a arquiteta Patrícia Bagatini e sua mãe, Meire.
O CR-V é o utilitário 4x2 que mais vendeu em nosso mercado em 2011, segundo dados da Fenabrave. O estilo ainda atual, o consumo baixo, a mecânica confiável e a ampla oferta de espaço são alguns dos fatores que ajudam a explicar o sucesso. E o preço do seguro, o mais alto deste comparativo: 4 444 reais. Ainda que o preço de 88 410 reais torne essa conta menos salgada (somando o carro e o seguro, ainda sai mais barato do que a mera compra do Toyota RAV4 ou do Hyundai ix35), o pacote de peças do Honda é o segundo mais alto. Se na compra ele é atraente, o convívio com ele não é barato. Antes de mais nada, não testamos o ix35 que ilustra esta reportagem. Usamos como referência o teste anterior, feito com o modelo 4x4 em nossa edição de agosto. O peso a mais do sistema de tração traseira não ajudou o Hyundai, mas o fato é que não tínhamos um 4x2 para teste. Todos os demais dados se referem ao ix35 automático de entrada, que vem com direção hidráulica, ar-condicionado, trio elétrico, ABS, CD Player com comando no volante, computador de bordo e câmbio automático de seis marchas. E só. A 93 000 reais, o valor mais alto dentre os concorrentes.
Se o ix35 é caro, seu seguro é o mais baixo, pela cotação da corretora Nova Feabri para nosso perfil padrão: 2 893 reais. O valor de suas peças de reposição, o mais baixo deste comparativo, certamente ajuda nisso. Pelo nosso pacote, que inclui amortecedores dianteiros, jogo de pastilhas das rodas dianteiras, para-choque dianteiro, farol e retrovisor esquerdos, o dono do ix35 pagaria 5 836 reais, segundo nossa cotação, que teve a ajuda da Audatex. Vale ressaltar que os preços das peças não variam de uma revenda para outra, o que facilita a vida do consumidor.
Seja como for, o preço maior do ix35 deveria representar algum tipo de vantagem em conteúdo, espaço interno ou desempenho. Não é isso que acontece. Com a mesma base do Kia Sportage, o modelo é mais apertado no banco de trás. Com um motorista alto, de cerca de 1,80 metro, alguém do mesmo tamanho vai ter de apertar os joelhos contra o encosto da frente. O porta-malas também é menor, com apenas 465 litros. A Hyundai informa 591 litros, pelo método VDA, padrão brasileiro, mas conta o espaço disponível até o teto. No site francês da empresa, o valor informado, citado acima, é até o nível dos vidros.
Ao volante, o ix35 mostra que o motor 2.0 é adequado a sua proposta. Responde bem às solicitações do acelerador. A suspensão, mais voltada ao conforto, absorve as imperfeições do piso sem fazer alarde. Todos os comandos do carro são suaves, o que mostra seu ajuste ao público feminino, parcela significativa dos compradores desse segmento. Nas curvas, ele mostra firmeza, a exemplo do Sportage.
Caro, mas camarada na manutenção e no seguro, o ix35 fica com o terceiro lugar porque oferece pouco pelo que custa, seja em equipamentos, em termos de espaço (outro dos apelos dos utilitários 4x2) e desempenho. O que o coloca à frente do CR-V é o fato de ser mais atual e, portanto, menos sujeito à ameaça de desvalorização que uma nova geração traz.
Assim como o Honda CR-V, o RAV4 deve mudar por inteiro em 2012. Como é importado, com preços de peças altos, a tendência seria ele sofrer uma grande desvalorização, mas a Toyota, conhecida por ser conservadora em seus desenhos, não lançará um RAV4 muito diferente do atual, pelas informações que temos. Será justo. Ele é, de longe, o SUV com o melhor desempenho neste comparativo. E não se trata apenas do motor maior, um 2.4, mas de seu bom conjunto mecânico.
O RAV4 é o único entre os utilitários reunidos a apresentar câmbio automático de quatro marchas. Seria esperado um comportamento pacato, com falta de força em ultrapassagens e subidas, mas a Toyota também é mestra em ajustar corretamente seus câmbios automáticos. A transmissão se comporta de modo exemplar. E mostra o brilho do motor 2.4.
Com comando variável de válvulas, ele produz 170 cv e 22,8 mkgf de torque. Se não são de encher os olhos, essas prestações pelo menos ajudaram o RAV4 a vencer todos os seus concorrentes. Apesar de ser o maior modelo deste comparativo em comprimento (4,63 metros) e em entre-eixos (excelentes 2,66 metros), ele não é o mais pesado, título que cabe ao Hyundai ix35. Isso faz com que ele, além de acelerar bem, também freie em espaços curtos, algo que conta para a segurança tanto quanto ABS e airbags de série. A exemplo do CR-V, o RAV4 tem regulagem de altura e de distância do volante.
Ao contrário dos concorrentes, o RAV4 não é suave. O freio é duro, a direção é mais pesada e direta e ele não se preocupa em ser gentil. As portas não se travam sozinhas quando ele começa a andar: é preciso travá-las. Mal de japoneses (o CR-V também não tem trava automática). Se você gostou da posição de dirigir, parabéns. Se não gostou, problema seu. Até porque o carro é bom de guiar e fica fácil perdoá-lo.
O RAV4 é grande por dentro e por fora. O espaço no banco traseiro serve a pessoas altas mesmo com outra alta dirigindo. O porta-malas é o segundo mais generoso, segundo as fichas técnicas divulgadas pelas marcas, mas parece ser o maior de todos. No comparativo dos 50 anos da QUATRO RODAS, deixamos a vitória do Kia Sportage sobre o Hyundai ix35 "sub judice" porque era preciso definir seu preço. E ele é 5 100 reais mais baixo que o do concorrente: 87 900 reais. Pelo mesmo nível de equipamentos, mas com espaço interno mais convincente. E um desempenho parelho; melhor em algumas coisas, pior em outras. Seu seguro não é o mais baixo, mas é o segundo mais em conta: custa 3 214 reais, segundo a Nova Feabri. Segundo modelo mais caro do comparativo, a 92 500 reais, o RAV4 peca no seguro (o segundo mais alto, 4 083 reais) e no valor das peças de reposição (9 564 reais). Ele é o modelo mais caro de manter. Suas versões anteriores também não respondem bem no mercado, com desvalorização acima de 20%, segundo a Agência AutoInforme. Ele muda ano que vem, lembra? Pois é. O segundo lugar está explicado.
No comparativo dos 50 anos da QUATRO RODAS, deixamos a vitória do Kia Sportage sobre o Hyundai ix35 "sub judice" porque era preciso definir seu preço. E ele é 5 100 reais mais baixo que o do concorrente: 87 900 reais. Pelo mesmo nível de equipamentos, mas com espaço interno mais convincente. E um desempenho parelho; melhor em algumas coisas, pior em outras. Seu seguro não é o mais baixo, mas é o segundo mais em conta: custa 3 214 reais, segundo a Nova Feabri.
Em termos de estilo, o Sportage é quase alemão, algo que se deve a Peter Schreyer, ex-chefe de design da Audi. O desenho também valorizou o interior do carro, mais amplo que o do ix35. Não por conta das medidas internas, mas pelo aproveitamento do espaço, com bancos dianteiros mais finos, por exemplo. No porta-malas, a história é a mesma: cabem 564 litros de bagagem. Não são os 740 litros que a Kia divulga no Brasil pelo mesmo motivo que o ix35 não tem 590 litros e mais um: a inclusão do espaço que vai até o teto e também o método SAE de medição, mais generoso que o VDA. Ainda assim, é o melhor do comparativo, segundo as fichas técnicas.
O parentesco com o ix35 faz o Sportage repetir alguns erros do primo, como a falta de regulagem de distância da direção, ajustável apenas em altura. Outro erro é seu custo de manutenção, alto. E sem padrão: é possível achar os amortecedores dianteiros por 1 582 reais o par ou por 840 reais. A Kia informa preço de 797,60 reais. O desafio da marca será garantir que ele seja praticado por todas as suas revendas. O total de nosso pacote de peças ficou em 6 065 reais. Se as concessionárias seguissem a tabela da Kia, ele custaria 4 696 reais. Ainda que mais caro do que deveria, o pacote de peças do Sportage é o segundo mais barato. O Kia é o custa menos para comprar e, somando seguro e manutenção, o mais em conta para manter.
Apesar de ter nos ajudado neste comparativo, a Kia só tinha o modelo mais caro para ceder. O que queríamos avaliar tem bancos de tecido, com ajuste manual, mas não estava disponível. O nível de equipamentos é o mesmo do ix35, mas as rodas são de aro 16. O motor 2.0 pode parecer pequeno, mas dá conta. O carro não joga o motorista nas curvas. Quase dá para chamar o Sportage de perua, considerando o quanto elas são melhores de dirigir que os utilitários.
Ainda há o que melhorar, mas isso não diminui os méritos do coreano. Só falta a fábrica ampliar a cota que a Kia tem para vender o carro no Brasil: a fila de espera por um Sportage está em torno de 90 dias.
Em termos de estilo, o Sportage é quase alemão, algo que se deve a Peter Schreyer, ex-chefe de design da Audi. O desenho também valorizou o interior do carro, mais amplo que o do ix35. Não por conta das medidas internas, mas pelo aproveitamento do espaço, com bancos dianteiros mais finos, por exemplo. No porta-malas, a história é a mesma: cabem 564 litros de bagagem. Não são os 740 litros que a Kia divulga no Brasil pelo mesmo motivo que o ix35 não tem 590 litros e mais um: a inclusão do espaço que vai até o teto e também o método SAE de medição, mais generoso que o VDA. Ainda assim, é o melhor do comparativo, segundo as fichas técnicas.
O parentesco com o ix35 faz o Sportage repetir alguns erros do primo, como a falta de regulagem de distância da direção, ajustável apenas em altura. Outro erro é seu custo de manutenção, alto. E sem padrão: é possível achar os amortecedores dianteiros por 1 582 reais o par ou por 840 reais. A Kia informa preço de 797,60 reais. O desafio da marca será garantir que ele seja praticado por todas as suas revendas. O total de nosso pacote de peças ficou em 6 065 reais. Se as concessionárias seguissem a tabela da Kia, ele custaria 4 696 reais. Ainda que mais caro do que deveria, o pacote de peças do Sportage é o segundo mais barato. O Kia é o custa menos para comprar e, somando seguro e manutenção, o mais em conta para manter.
Apesar de ter nos ajudado neste comparativo, a Kia só tinha o modelo mais caro para ceder. O que queríamos avaliar tem bancos de tecido, com ajuste manual, mas não estava disponível. O nível de equipamentos é o mesmo do ix35, mas as rodas são de aro 16. O motor 2.0 pode parecer pequeno, mas dá conta. O carro não joga o motorista nas curvas. Quase dá para chamar o Sportage de perua, considerando o quanto elas são melhores de dirigir que os utilitários.
Ainda há o que melhorar, mas isso não diminui os méritos do coreano. Só falta a fábrica ampliar a cota que a Kia tem para vender o carro no Brasil: a fila de espera por um Sportage está em torno de 90 dias.
Ainda que desempenho não seja o foco dos compradores deste tipo de veículo, o Honda não precisava ter ficado tão atrás de seus concorrentes nos números de aceleração, retomada e frenagens. Uma vez em movimento, o motor 2.0 até dá conta do recado, auxiliado pelo bom câmbio automático de cinco marchas, mas é nítida a falta de força em subidas e ultrapassagens, mesmo reduzindo as marchas. Confortável, a suspensão também cumpre seu papel, mas deixa a desejar: a carroceria se inclina mais do que a dos concorrentes. Os bancos oferecem excelente apoio, mas se inclinam junto com o motorista. A contrapartida, como seria de esperar, é o consumo, o mais baixo de todos na cidade e o mesmo obtido pelos melhores na estrada.
O desempenho pior que o dos concorrentes começa a desencorajar a compra, mas o que coloca o CR-V em terreno desfavorável é o fato de ele ter uma renovação completa agendada para o ano que vem. Se isso já afeta veículos nacionais, com custos de manutenção mais baixos, ganha peso maior nos importados, em que o fator imagem conta pontos. Ainda mais no caso da Honda, que deve mudar o CR-V de modo radical em sua próxima geração, pelo que apuramos. É uma tradição da marca (o próximo Civic será a exceção à regra). Quem comprar um CR-V, a não ser que fique com ele por pelo menos três anos, terá de enfrentar desvalorização alta.
Diante disso, o porta-malas de alegados 1 011 litros (na França, a Honda aponta que ele tem 556 litros, pelo método VDA, e ele não parece tão maior que os concorrentes) e o amplo espaço para as pernas no banco de trás, com a vantagem do assoalho plano, só terão apelo para quem precisa de muito espaço mas não liga para desempenho, preço de seguro, de manutenção e desvalorização. Em suma, para muita pouca gente. É dele o quarto lugar.